Jójó, Paulo, Eugénio, Carlinhos e Fernando

Previous Image Next Image

Introdução

Nos dias que correm o mergulho é um negócio com todas as suas vertentes devidamente cobertas pela componente comercial, começando pelos cursos e continuando pelo fornecimento de todos os materiais necessários desde o famigerado lastro de chumbo, ao mais complexo computador de mergulho, passando pela organização de mergulhos.

O mergulhador amador dos tempos actuais que um dia se lembrou que mergulhar era capaz de ser engraçado, procurou uma escola, provavelmente , se teve essa possibilidade, recorreu a um conhecimento que lhe deu umas dicas, perguntou quanto custava, informou-se. É provável que tenha ficado pela primeira que encontrou porque o espírito dos profissionais neste sector é, muitas vezes, o das pessoas que trabalham por prazer e logo transmitem um grande entusiasmo sobre a actividade, que por contágio empurra rápidamente o neófito para uma relação de confiança, conduzindo-o à inscrição no próximo curso que, assim, fica ansiosamente marcado, para a data tal.

Depois, se não fazia já caça-submarina, começa a pensar em adquirir o material essencial e mais o que gostar, desejar, ou lhe aprouver. Se a própria Escola não se encarregou já de aconselhar, e vender, determinada solução, só vai ter dificuldade é em optar pela marca, pela cor, quem sabe simplesmente pela loja mais próxima em termos puramente geográficos. A realidade é que encontra, quase, tudo o que se propuser comprar nas lojas da especialidade.

Agora tente imaginar que este "filme" se passa há vinte anos atrás. Provavelmente seria difícil, sequer, concretizar a vontade de aprender a mergulhar. Mas, se, por acaso, ouviu algures uma conversa sobre o assunto, pode ser uma pista a seguir. Após alguma investigação foi parar, inevitávelmente a uma porta que se abriu, poderá ter até batido a mais mas só uma - ali para os lados das Janelas Verdes - teria a dinâmica necessária para "segurar " logo o "cliente". O espírito esse é sempre o mesmo o de pessoas com algo de especial em comum e que mais cedo ou mais tarde vão estar interdependentes em situação de mergulho no Mar. Estamos a falar é claro do CPAS. Se o dito espírito daqueles cursos - um ou dois por ano, na altura - era inigualável, tudo o resto faltava. Tirando a troca do caderno de mergulho pela "massa" ($) o restante apoio resumia-se aos enchimentos das garrafas. Por isso uma grandíssima, embora indeterminada, percentagem de mergulhadores formados ao longo de muitos anos pelo Centro nunca chegariam a dar continuidade à actividade à qual tinham decidido dedicar-se.

As dificuldades eram todas mas a falta de objectivos e de apoio na prática pós-curso era constrangedora e, penso, que por ser tão evidente e tendo à frente pessoas com grande capacidade organizativa só se explica que houvesse alguma intenção, ainda que subconsciente ( é a nossa convicção ) de manter sempre a mesma elite primordial, neste caso desacrescentada dos seus subsiadores que iam pagando os cursos mantendo a instituição, mas regra geral, ou eram titularmente - diga-se - convidados para o grupo ou desapareciam. Sendo este o ponto onde queríamos chegar, a falta de sequência ao curso e as elites (cujo contra movimento em reacção terá dado origem aos Morcegos), vamos no entanto acrescentar que quanto ao restante a situação não melhorava.

Por exemplo, os elementares chumbos de lastro nem sempre se encontravam à venda. Era preciso "abrir a época" em vésperas de o tempo ficar bom e começar a verificar-se alguma movimentação no sector. A alternativa era fazê-los, moldes artesanais e bastante paciência. Um par de botas não existia, usava-se meias de neoprene ou de lã e calçava-se sandálias de plástico por cima para as poupar. Quando descobrimos que os, felizardos, da Vela usavam botas em neoprene com belo rasto de borracha foi uma correria a essa colorida solução. E os coletes? Só os babetes da Fenzy que sendo dispendiosos e não existindo no mercado eram dignos de lista de espera nas lojas da altura para candidatos à retoma.... eram efectivamente comprados, usados, no representante que não tinha para venda…  novos. Com tantos "incentivos" e ainda para mais - fundamentalmente – perante a inércia propositada ou activa falta de dinâmica de muito boa gente. Era natural que unidos pela vontade de mergulhar se formassem organizações dentro da organização ( que funcionava assim como ponto de encontro ) de forma a possibilitar a coordenação da actividade. Era também natural que o tom dessa organização fosse sarcásticamente polarizar tudo o que era contrário ao que estava instituído ( é sabido que acção gera reacção ).

Surgem assim os Morcegos. Espontaneamente, juntávamo-nos dentro do horário que reunia o maior consenso e lá íamos em grupos perfeitamente organizados praticar a actividade.

Sem objectivo na actividade e sempre com os mesmos locais para mergulhar era inevitável criar um objectivo aglutinador para as sucessivas imersões em lugares já muito conhecidos. Então, talvez, apanhou-se os primeiros polvitos. ( reparem como fomos empurrados ou encurralados para esta hedionda via pelo sistema, sistema este da responsabilidade dos que nos ensinaram e abandonaram com o investimento nas mãos ).

Depois do facto de estarmos em grupo surgiram as conversas, do mais sarcástico ao mais sério, que foram compondo a base "filosófica" da equipa.

Quando mais tarde os "zum-zuns" aparecem e se começa a falar (de cor diga-se ) dos que andam por aí à noite - é verdade que durante a semana só podíamos mergulhar à noite o que entretanto começámos a fazer por sistema, até porque, conforme pudemos atestar devidamente com a experiência à noite é melhor" …- e nos começavam a colocar como alvo de criticas por actividades que na altura eram relativamente inocentes ou pelo menos de certeza destituídas das nefastas intenções predatórias que algumas consciências menos tranquilas nos acusavam.

Então, dizíamos, entrámos nesta profunda clandestinidade que nos caracteriza ( vide os nossos rostos encobertos nas fotos que documentam estas páginas de Sea Lovers ) e cujo ambiente estava mesmo a justificar.

Faltava-nos o grande aglutinador que ficaria a servir de memória histórica durante todo este tempo, O MORCEGO .

Grande marco do pioneirismo em mergulho nocturno em Portugal, quase uma Sociedade Iniciática tantos foram os mergulhadores cuja primeira oportunidade de mergulho fora do curso aconteceu precisamente por iniciativa dos Morcegos se nem sempre à noite pelo menos sempre em grandes momentos de mergulho quer em organização quer em experiência e troca de solidariedade no Mar, rápidamente extensível à nossa vida do dia à dia onde as amizades desse tempo continuam a funcionar em perfeita irmandade Morcega.

A.P.P.L.

Previous Image Next Image